'Just Another Man' by Denilce Luca
segunda-feira, 28 de janeiro de 2013
quinta-feira, 24 de janeiro de 2013
" (...) Foi no terceiro dia de Outono que o Gato recebeu uma carta triste da Andorinha que dizia “Uma andorinha não pode jamais casar com um gato”.
E no último dia de Outono, depois de terem percorrido “todos os lugares que haviam aprendido a amar na Primavera e no Verão”, quando a noite chegou, a andorinha disse ao gato que ia casar-se com o Rouxinol e partiu sem olhar para trás.
Desde então, o Gato Malhado passou a andar triste e sozinho.
No Inverno, o Rouxinol e a Andorinha Sinhá casaram-se e foi tanta a tristeza do Gato Malhado, que ele decidiu caminhar até ao Fim do Mundo. Foi a última vez que se viram.
A Andorinha deixou cair uma pétala de rosa sobre o Gato e ele colocou-a no peito, parecia uma gota de sangue."
(O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá - Jorge Amado)
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
"Carta de uma Mulher Qualquer" by Denilce Luca
“Meu
querido,
Espero que
esta carta lhe encontre bem e gozando de perfeita saúde...
Aqui
escreve uma mulher qualquer...
Fiz tua
minha vida
Fiz tua
minha pele
Fiz teu
cada detalhe de meu corpo
Minha alma
tão nobre e altiva
Altiva
porém tola
Rendeu-se à
grande insídia
Dominada
pelo desejo
Completamente
cega fez-se escrava de meu próprio corpo
Não
precisava que algo dissesse
Sabia ler
teus olhos
Preferia
que não dissesse
Preferia
que teus olhos o fizessem
Meus
ouvidos me traíam como o resto de meu corpo por ti enfeitiçado e amaldiçoado
Não
precisava de promessas
Conhecia o
escuro
Conhecia o
vazio
O escuro e
o vazio das mentiras que me faziam sangrar
Sofria por
ti e gozava contigo
Submetia-me
a teus caprichos e desejos e criava em tua mente tantos outros sem que pudesses perceber...
Te fazia
sorrir quando te afagava
Te fazia
gemer quando te desejava
Te fazia
tudo porque tudo queria
Fazia tudo
porque te queria tudo
Tanto te
queria porque te amava tudo...
Tanto
queria e nada pedia
Entreguei-te
minha alma para que brincasse
Entreguei-te
meu corpo para que pudesse ter o teu
Sabia que
teu corpo com outra dividia
Com força
sobre-humana transformava dor em resiliência
Fitava teu olhar fingindo
acreditar no que dizias a fim de saber se já havia finalmente
tua alma dominado
Por fim,
dominada tua alma, teus olhos me deram a esperança de ter sido por um momento
de tua vida a única
Não sabia
por quanto tempo seria a única
Sequer
sabia por quanto tempo viveria...
Apenas uma certeza
tinha
Apenas uma
verdade me restava
Que ao
terminar a jornada daquela vida
Um vazio
ficaria e eu nada mais teria além da dor da tua lembrança...”
Chegou
finalmente o fim da jornada daquela mulher...
E quão
benevolente foi o destino... deixou o vazio, mas levou a lembrança
Finda a
jornada...
Finda a dor
Restou-lhe
apenas o pesar de ter amado em vão...
Talvez essa
carta nunca alcance seu destino
Melhor
assim
Pois como ela
mesma afirmou “aqui escreve uma mulher qualquer”
Que teve
uma vida qualquer...
“O grande medo vem quando a sensibilidade é tão grande que os sonhos preveem a tortura da realidade. O ser humano então precisa de uma âncora para que queira acordar novamente e não pereça em agonia”
(by Denilce Luca)
Painting: 'Dante's Dream at The Time of The Death of Beatrice' by Dante Gabriel Rossetti
(by Denilce Luca)
Painting: 'Dante's Dream at The Time of The Death of Beatrice' by Dante Gabriel Rossetti
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
'Saudade' by Denilce Luca (Painting by Tomasz Rut)
E tentei
escrever sobre a saudade...
Ao fazê-lo
lembrei de ti e aquele mesmo suspiro veio...
Não sabia
se deixava a folha em branco em menção ao vazio que fica quando estou sem você
Não sabia
se descrevia todos os momentos e sensações que decerto ali não caberiam
Parei então
e mais uma vez voltei minha atenção para dentro de mim
e lá te vi...
Como sempre
de tudo esqueci e fiquei a ouvir tua voz gostosa a sussurrar o que ecoa em mim
e me faz viver
Com mais um
suspiro veio a sensação do teu toque suave viciando minha pele
O ar mesmo sem
querer ou poder trouxe teu cheiro
Meu corpo
todo de imediato respondeu
Um tanto
suado... um tanto trêmulo...
Vieram outros
tantos sussurros
Vieram outras
tantas lembranças
Chegou um
sorriso
Chegou uma
lágrima
Veio a
vontade de você...
Uma alegria
de te ter
O medo de
te perder...
Larguei por
fim o papel...
Se saudade
é vazio
Não a
conheço,
Sendo assim
não a descrevo
Se saudade
é tudo que por ti sinto no papel decerto não caberia
Se todos nossos
momentos ainda são verdade vou esquecer a tal saudade
Ficarei com
a verdade desse amor indescritível por natureza
Você em mim
Eu em você
A saudade
que faz sofrer transforma-se em uma vontade louca de viver
Viver para
ter mais de você
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